Música

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Laranjeira - flor nobre, estival e de forte cerviz




De um ser de Lua ouvi o canto: sereia que às praias me aproxima - eu marinheiro dos dias -para o além vogando... ouço, considero... dura sina!

Outrora houve os tempos, nas que as árvores de prata se entreteciam - nos dourados raios da luz da Aurora - e nem havia estrelas que se assemelhassem a luzeiros... nem manhãs estrondosas que serenos fogos fátuos destruíam...

Certo que - neste mundo que agora corre - andam deus e o diabo, procurando uma melodia que os transporte, para o mesmo céu tantas vezes sonhado - que um e outro deixam de lado - pelos frios e ardentes raios e labaredas que nos consomem as vidas e as fazem veredas - de espinhos sem rosas, de cardos sem prosas: de dias e horas vazios preenchendo trabalhos esquivos para pagar outras tantas fúteis verdades;

Dito isto de início - fica bem o perguntar - se a tua alma é assim tão doce, teu sentir tão simples - teu sonho tão ousado de sonhar: porque a tua barca voga - constante - para águas de assustar:

se o rio da vida flui de mansinho para todos os que escolhem a verdade no seu vogar;

Simples, puro e transparente - eis o abraço de um irmão... como somos seres que se entendem - de onde virá essa incompreensão?...

Sabemos que os corpos clamam - pelo calor que os faz vingar... tal como sonhos requerem outros sonhos para em vida se transformar;

Se - a chama da vela - queima tua graciosa mão ao te aproximar: por muito que gostes da sua luz sagrada - não será mais fácil tua mão afastar?

E - se na noite escura - te falta a estrela guia... se teu norte aponta ao chão, ao ar... ou ao imenso mar: recorda que os passos concretos de uma vida simples são sempre passos serenos para ao cimo chegar;

E - quando sobes um monte - que é o teu mais: aquilo onde podes e queres chegar - lembra que há passos... tantos passos! que custam imenso a se caminhar...

Seja essa a medida que te indique a subida ao teu mais sublime: ser... e estar - pois em cada passo mais perto do cume - é também o teu centro que se está a aproximar...

Agora - jovem donzela - pondera por favor este mal: se corres, se notas já a pradaria imensa e o verde e as flores e a água que se esvai... para esse mar imenso aonde todos iremos um dia navegar - pensa:

estarás subindo ao mais alto de ti... ou corres vereda abaixo de novo para esse vale onde os sonhos se esvaem e a água pura da montanha se faz lagoa ou pântano sem caminho para seguir a seu mar?

Onde - depois do entorpecimento que deixa o embriagamento de um momento... depois das hormonas que dançam sem cessar... de endorfinas que nos preenchem os olhos de febres divinas e de cupidos que nos atravessam para depois nos abandonar: qual o destino na vereda, qual o caminho que te conceda - a graça de seres tu mesma afinal?

Se há caminho... e há!

Se há caminho - o TEU caminho - para o centro do ser que te é dado habitar - lembra que pode haver portas: oh tantas portas! - que, como raios de roda que não se permite o parar - partem dos extremos:

das suas frias periferias... atraídos por emoções ("emovere") que dão lugar a pontes de arco íris de situações vividas e estabelecem sentimentos - mais nobres...

... as lages firmes onde ir pisando - procurando - esse tal amor que: no centro da tua roda - espera e se demora - para te ajudar a encontrar: esse teu verdadeiro ser - que a pressa deste mudo pretende vender, delapidar ou velar...

Tu que despertas - que és sábia nesse teu centro alerta - acorda para a verdadeira vida de estar livre no centro do teu ser singular:

Assim olhando, sorrindo, dando a mão e abraçando - outros que, livres caminhem sem se prender - ao banal prazer, ao habitual correr, ao intenso apelo do imediato desvelo....

Esses, que ignorando o medo, sabendo profundo que não estão sós entre as legiões de seres perdidos neste mundo, dessas grandes almas feitas seres mendigos por venderem sua essência pelo vil pó;

Esses - peregrinos - que a nada mais obedecem do que ao bom, ao belo, à verdade e ao amor espontâneo: simplesmente traduzido no olhar sereno, na postura humilde, no estar atento ao que passa e connosco se alinhe no gesto imenso de se dar a mão:

São esses os que apenas caminham para libertar;

Tantos caminhos - tantas aves e ninhos - tantas cores garridas a admirar e - no entanto - peregrina dos dias - apenas um - um só - é o teu passo e a tua forma de andar;

Não corras como os que mais correm!

Não corras tanto apenas por correr ou não ficar atrás!

Tu sabes onde fica teu rumo, teu destino é teu cume - por isso vai - em passos serenos que demonstrem - dia a dia - quem és;

Nem atrás te deixes ficar - sempre que os que já não correm pretenderem mais - mais adeptos da religião do degredo, da falta de sentido para aqui estar: recorda que um dia entre eles é uma eternidade sem par - e o preço de se perder o rumo é - para sempre - deixar-se ficar...

Tu - decidida - não ignorante nem convencida, tu encontra teu poiso, tua planta a sentir - pé firme neste nosso chão... caminho de vidas antigas que ecoam no coração, de vozes livres entoando a nossa mesma canção:

 que há um sentido presente em cada peito que sente a vida como verdade e a verdade como passos sagrados - em primor partilhados - neste mundo recriado como pano de fundo da nossa divinal peregrinação;

Depois - com determinação serena - dessa que vem do centro da vida e não de qualquer ideia confusa comprada em praça ou arena - shopping moderno para o viajante incauto de visão turva e mente dormente - tu: vai!

Passo a passo - no teu PRÓPRIO ritmo e forma de caminhar.

Pé ante pé - olhar na ponta pousado quando te atreves a subir o cume sagrado desse teu Ser - com o lombo carregado pelas coisas que a vida já se atreveu a te ensinar;

Pé ante pé... desglosando - o termo amar, amigo, simples - cantando: os termos "companheiro", "compromisso" comungando - conceito feito vivência de uma mão dada e de um abraço celebrando...

E assim - sem mais - que a Primavera da vida nesse teu ser de mulher - menina  se faça virtude - Laranjeira em flor que alude - aos sólidos e régios passos daqueles que sobem: com alma e sentir - com firme e esclarecida vontade - caminhando sem descair.

Confio que saberás encontrar a tua estrela guia, a tua serena torre - fortaleza de virtude vivida, o teu próprio ritmo - para além de todas as modas e perspectivas - e o teu próprio lar - objectivo final da vida que te dispões a caminhar;

Um saúdo peregrino, de alguém - cujos passos dividimos neste amplo caminho da vida para o além que nos quer abraçar - ecos distantes que se fazem presença constante e sorriso ameno ao recordar - em segredo - um outro sorriso que me fez iluminar, crer, partilhar:

simplesmente - celebrar - um pouco de vida simples num lugar esquecido entre tanta gente a murmurar;

Ultreya et sus Eya

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