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segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Erin: como a SOLIDARIEDADE INTEGRA o HUMANO - parte I






Erin Pizzey (1939) é uma escritora, jornalista e, acima de tudo, precursora do movimento global de abrigos para mulheres agredidas

Em 1971, ela fundou o primeiro desses abrigos em Chiswick, perto de Londres.

Ao longo de dez anos, Erin Pizzey acolheu e cuidou mais de 5.000 mulheres e seus filhos na sua instituição.


Erin Pizzey LINK


Erin já escreveu vários livros sobre a violência doméstica, entre os quais “Tendência à violência” ("Prone to violence") (1982): que reflecte a experiência dos 10 anos de trabalho no seu albergue/ abrigo.

De acordo com seus resultados, quando descreveu nas suas conferências que: das 100 mulheres que inicialmente vieram para o abrigo 62 eram tão ou mais violentas do que os companheiros dos que fugiam, “ - e aos que regressavam uma e outra vez, devido à sua propensão à dor e à violência" - as reacções de discordância foram intensas, se não mesmo EXTREMAS.





Na sequência da publicação do livro ("Prone to Violence"), Erin recebeu ameaças de morte contra si e a sua família.

Durante a promoção do livro, foi aconselhada a viajar baixo escolta policial.

A perseguição que sofreu atingiu tais proporções que Erin foi para o exílio em Santa Fé (Novo México), não regressando à Inglaterra até 1997.

Actualmente vive em Londres.





No seu Livro "Prone to Violence", descreve a dificuldade inicial em dar ACOLHIMENTO e APOIO às mulheres VÍTIMAS de VIOLÊNCIA DOMÉSTICA.

Descreve como na Inglaterra, as iniciativas que visavam dar atenção à problemática das mulheres vítimas de violência, embatiam na resistência de uma sociedade que se defendia da violência pela simples negação:




racionalizando - através de ideologias do tipo: "Escolheu, logo é o contexto que merece" - em contraste com uma escolha de abertura, compreensão e possível acolhimento - reflectindo esta última VALORES HUMANOS BÁSICOS, COMPROMISSO e ACTUAÇÃO COERENTE por parte da autora.

Esta dificuldade da ACEITAÇÃO SOCIAL da defesa de VÍTIMAS de VIOLÊNCIA traduzia - em pleno séc. XX - as dificuldades sentidas durante o séc. XIX.




Erin no seu livro, apresenta como ilustração, o exemplo de um relatório para o parlamento, datando já de 1878 (por um político homem: Frances Power Cobbe) - num pedido formal no sentido da se dar a devida atenção social à temática da violência sobre as mulheres no contexto do casal.




Esta definição evoluiu posteriormente para a de "violência doméstica" - no sentido de enquadrar os vários géneros de violência que se poderiam contextualizar no ambiente do "lar" ou "família". 





Assim englobaria, não sómente a violência exercida sobre, mas também por Mulheres e enquadraria IDOSOS e CRIANÇAS que - como veremos - compõem também o ciclo ou cadeia de violência e são VÍTIMAS esquecidas: apesar de que os estudos incidindo sobre crianças (não se referem estudos divulgados entre os IDOSOS) apontem para percentagens deveras altas. 





Passamos depois ao determinismo exclusivista, apelidando este tipo de violência como de"género" - circunscrevendo-se artificialmente uma problemática geral a um contexto artificial que engloba APENAS o casal da família mononuclear na sua dualidade "casal" de Homem-Mulher - 





e, óbviamente - EXCLUÍNDO os enquadramentos relacionais restantes (como casais homossexuais)




 nos que as vítimas ou agressores são Homens (no caso Gay) e  a sua vice-versa nos casais Lesbianos.





Em países como a vizinha Espanha - chegamos à peculiaridade desta violência ter sido perniciosamente apelidade de"Machista" - subtilmente apontando um dedo acusatório sobre um dos géneros encobrindo assim a problemática na sua verdadeira dimensão.





Como veremos - a VIOLÊNCIA DOMÉSTICA é um fenómeno MULTIFACTORIAL e AFECTA TODOS os elementos do contexto no que a mesma se desenvolve.




Regressando ao LIVRO de ERIN "Prone to Violence",a autora descreve de seguido uma outra grande dificuldade encontradaao EXPLORAR e DIVULGAR a sua EXPERIÊNCIA.





Relatando casos CONCRETOS e referindo os NÚMEROS de Mulheres e Crianças acolhidos, Erin apresenta o REVERSO da MEDALHA ou o outro EXTREMO da cadeia de VIOLÊNCIA - tão ou mais difícil de analisar dentro do contexto actual.





Um movimento inicialmente digno e meritório, no sentido da igualdade, apresentava rasgos e características de inflexibilidade contrastando com a COERÊNCIA INICIAL, estando sujeito de forma PERNICIOSA a ideias RADICAIS:





Nesses dias resultava demasiado perigoso partilhar as minhas descobertas nesta área, porque já era demasiado difícil o ganhar a aceitação do público em geral mesmo apenas para a simples ideia de que as esposas maltratadas necessitavam acolhimento. Discutir a noção de que algumas mulheres eram, de facto, tendentes à violência - regressando uma e outra vez - para os relacionamentos violentos, apenas teria servidopara alhear ainda mais a opinião pública destas mulheres que - genuinamente - necessitavam ajuda.

In those days it was too dangerous to attempt to share my discoveries in this field, because it was hard enough to gain public acceptance even for the idea that battered wives needed refuge. To discuss the notion that some women were actually prone to violence, and returned to violent relationships again and again, would only have served to alienate the public from these women who were in genuine need of help.


Erin Pizzey: “Prone to Violence” pp: 16 e 17;
FONTE: LINK



Erin – faz notar a diferença entre “Battered ” e “Prone to Violence”, ou seja, entre a PESSOA VÍTIMA de abuso por parte de outra pessoa e a PESSOA com TENDÊNCIA para a VIOLÊNCIA.





"No decurso deste livro, é essencial compreender a diferença entre a nossa utilização dos termos "agredida" e "tedente -à - violência". Para nós, uma pessoa agredida é a vítima inocente da violência de outra pessoa; uma pessoa tendente à violência é vítima do seu próprio apego à violência."


In the course of reading this book, it is essential to understand the differentiation between our use of the words battered and violence-prone. For us, a battered person is the innocent victim of another person's violence; a violence-prone person is the victim of their own addiction to violence.

Erin Pizzey: “Prone to Violence” pág: 17

Abordando o tema das FAMÍLIAS – refere que muitas destas pessoas se encontravam circunscritas a “guettos” ou áreas de marginalização. 




Nos seus extremos, os homens eram colocados outrora em prisões e as mulheres em hospitais psiquiátricos, ficando as crianças relegadas a passar de instituição social em instituição social, renovando elas mesmas posteriormente o ciclo de VIOLÊNCIA uma vez se transformassem em adultos.



O paradigma da sociedade actual, levou a que a procura de uma aparente emancipação  da relação RELIGIÃO/ FAMÍLIA e sua desconexão, gerasse uma forma reactiva de LIBERALIZAÇÃO IDEOLÓGICA - levando à CIRCUNSPECÇÃO de nichos familiares humanos cada vez mais restritos e mais facilmente alvo de DESIQUILÍBRIO em termos da ecologia emocional. 




Ou seja - núcleos familiares reduzidos - encontram-se mais expostos a agressão ou hostilidade do meio. 


Núcleos familiares maiores representam bases de maior aglomeração de recursos de protecção, integração. 


A Família é assim vista como principal factor socializante e estabilizador.


Erin – com razão – aponta que as sociedades occidentais correm o sério risco de entrar em ruptura, ao terem ignorado o factor humano como factor de COESÃO, sendo que o relacionamento familiar apresenta-se como como base de EQUILÍBRIO e FUNDAMENTO de ESTABILIDADE.






Se analizarmos esta questão, com base no “holismo” (visão conjunta, ou de todo – bio-psico-emocional-social) poderemos integrar esta perspectiva concluíndo que os programas "parciais" ou de pendor ESPECÍFICO apenas PROMOVEM a CONTINUIDADE do desequilíbrio ou “problema”.




Restringindo a questão a áreas selectivas descontextualiza-se a abordagem global. 


De facto -  a solução encontra-se no âmbito afectivo e é parte da relação HUMANA de QUALIDADE na que o NICHO FAMILIAR ou PRESENÇA HUMANA GRUPAL e POSITIVA -  ACOLHENDO é de importância FUNDAMENTAL.





Este é o caso de Erin e - em termos específicos - poderíamos dizer que, a institucionalização não compensa o afecto humano:


é necessária a mesma carga emocional positiva e o ambiente propício para nivelar a descompensação.

Daqui ao crescimento de movimentos institucionais compensatórios com vista a  recriar a falta do paradigma de base da estrutura humana (afecto familiar estável e positivo) – vai um passo - que facilmente se identifica nas várias tentativas institucionalizadas de mimetizar o que NATURALMENTE existe no entorno familiar.




Abordar a violência doméstica como um factor UNILATERAL é perpetuar o PROBLEMA (e Erin refere alguns lobbies que gerem este FACTO como recurso de lucro, benefício ou PODER) apresentando a frase lapidar que integra o masculino e o feminino, o feminino e o masculino na mesma abordagem: a da busca de solução para uma dinâmica plural, generalizada e que a todos diz respeito: 





"Por vezes, parece que ninguém quer ouvir acerca destas famílias. Não há votos a serem ganhos simplesmente por lhes dar apoio ou ajudá-los. Pois não são facilmente contextualizados como "vítimas" de agressão por parte de terceiros. Não são agradecidos nem gentis. Os seus filhos são habitualmente sujos, muitas vezes violentos e - frequentemente - em conflito com as forças policiais. Eles são o que são porque nasceram sem oportunidades.

As Sociedades Ocidentais não têm tido êxito em compreender como cuidar de uma família ferida, isto porque "A Família" tem sido vista quase como um conceito oriundo do ambiente religioso, sendo assim sagrada e intocável. Nos dias da grande e extensa família, o mero tamanho e números davam aos membros individuais alternativas de vida em termos da problemática da violência. Mas, com a crescente separação de famílias extensas e a sua transformação em famílias nucleares, criamos um estilo de vida perigoso, pois estas famílias limitadas representam a instituição socializante primordial na vida de uma criança.

“PAIS (plural) emocionalmente instáveis dão origem a filhos emocionalmente instáveis.”



Sometimes it seems that nobody wants to hear about these families. There are no votes to be won by supporting or helping them. For they cannot be easily claimed to be innocent victims of others' aggression. They are not grateful or gentle. Their children are usually dirty, often violent, and frequently in trouble with the police. They are what they are because they were born with no chance.

Western societies have failed to understand how to care for a damaged family. This is because 'The Family' has always been seen almost as a religious concept, and therefore sacred and untouchable. In the days of the large extended family, sheer size and numbers gave individual members escape routes. But with the increasing separation of the extended family into nuclear families we have created a dangerous lifestyle for ourselves, because this limited family is the primary socialising agency in a child's life. Emotionally disabled parents create emotionally disabled children.



Erin Pizzey: “Prone to Violence” pág: 34



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