Entrelaçados… dois seres… luz pura feita toque, saliva e
contacto… e prazer…
Etéreos… aninhados… asas com asas num voo pela dor de sofrer…
do querer
A presença amada, o sentir como o tempo a paixão apaga… como
a vida deixa de sorrir…
Então: despertos – reconhecemos nossa sina, nossa verdade…
nossa vida…
Jardineiros eternos, cuidadores das rosas do porvir:
Desatamos nós da vida, entrançando horizontes, fazendo prece
daquilo que só a alma consegue ouvir…
Água viva, chama pura… ser que o tempo apura…
Alimento com olhar, com toque, com regressar… a casa – à terna
morada
Do nosso abraço eterno, da nossa sensibilidade pairando… do
nosso momento presente…
Pele com pele… finos laivos de prata percorrendo a luz do
real
Arfejo… boca que com boca falando desejo… corpos que ondulam
num eterno mar…
Confesso… os nós que me prendem por dentro, a vida que em
mim alento… confiando mergulho buscando mais…
Olho para o alto… não te vejo… de repente sinto o toque que reconheço…
te contemplo… sei onde estás…
No peito palpita uma chama… pura, entrelaçada… segura…
centro presente do meu amor em ti…
Deste porto seguro partem os barcos que ancoram noutras
margens, noutros lugares… noutras tribos e linguagens que não aquela que nos
foi dada a escutar…
Palpitares… pairar de serenidades, que se esvaem pela pele…
sopro de verdades… revivendo cada desejo com o rebento de sementes vivas prometendo
jardins celestiais…
Tu… e eu…. somos mais…
Em cada gesto de carícia, toque ou partilha… em cada confissão
do alto ou do baixo que esta gente aninha… há algo de maior… mais profundo do
que a dor do mundo… mais amplo do que o amplo mar…
Confiar… em cada beijo para além do desejo… em cada carícia
como reconhecimento… sereno… cada sorriso um oásis ameno… cada gesto de
encontro a porta de entrada para um mundo mais real… nosso paraíso terrenal…
É ai que eu te vejo… despida dos robes que a realidade
apura, das vestes encantadoras que a visão ofusca… das máscaras de argila que
se desfazem em cinzas, das cores garridas que vêm dos corais… eu Sei-te mais…
Sei teu coração inflamado, sei o que é sentir-me a teu lado…
sei… um coração só entre dois a palpitar…
No fundo… renascemos por dentro… jardineiros eternos cuidando
sementes de tempo que esperam desabrochar…
Em ti me vou plantar… nesse peito me reconheço… nesse
respirar me embalo e desperto – dia após dia… para ver novamente este lugar
sabendo… que é apenas um sonho… que por dentro está o despertar…
Que tu eu vivemos no outro lado do rio, que a nossa vida É A
VIDA: que não mais perdida se estende em ondas douradas pelos campos do amanhã…
Ecos que palpitam, sementes que dormitam: esperando o dia benfazejo
no que possam germinar…
Eu, em ti, encontrei o meu lar…
Que tu germines, neste abraço sem pausas… que possas contar
tua luz à luz da manhã…
Nova aurora – onde o tempo profundo mora – novos tempos nos
que aprender a voar…SIMPLESMENTE… amar
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