Onde estás?
Quando desperto pela manhã... onde estás?...
Ouço o chuveiro... depois o secador; toda uma hora sem te ver... desde que saíste do nosso aconchego...
até que me envias um beijo timbrado pela voz contida de início de dia... algures detrás da armadura acinzentada que roube o brilho da tua cara e faz com que tenhas esse olhar que assusta...
És a mesma de Ontem?!?
De certeza?...
Ontem sorrias... como uma mulher criança...
Ontem entre os teus braços me envolvias... como se fosse o dom mais precioso que pudesse existir neste mundo vasto e variado - com caminhos que levam a este ou outro lado...
Hoje...
Hoje é Segunda - eu sei; é Dia da Lua... dia vazio - quando ontem foi de Sol... pleno... eu sei...
Hoje é dia no que me saúdas com timidez... noto como vacilas... como duvidas - não sabes o que fazer, onde me tocar, como me amar... como voltar a dizer - a frio e sem temer - que é meu o teu querer... a tua vida, o teu ser...
Não te sinto... estás vacilante... - eras faz pouco comprometida com o nosso mundo, o nosso projecto... com a alegria coma que deitávamos ontem... umas horas atrás...
Levanto, a porta encostada... duvido (vai ser sempre assim? Vai ser sempre esta representação vazia - na que me olhas cinco minutos deste dia e te trancas frente ao espelho toda uma hora? Que se ama aqui afnal?
Uma ideia, uma abstração... uma pessoa real?!
Preparas o teu dia... preparas armas e armadura: do cabelo até à cintura - sem esquecer os pés... e dizes que não crês em lutar?...
Fico pela sala a deambular ... de um lado para o outro... confuso...
Faláramos do mesmo na semana passada - quase romperamos... porque a armadura de distância - a coisa fria e rara - tinha penetrado tão profundo que até a nossa querida intimidade era medida e avaliada pela mente que controla a rotina do dia a dia e que nos faz seres indiferentes...
E eu - que também sou guardião e pilar do nosso coração, da nossa querida relação - mais não posso do que fazer-me sentir... do que transmitir por palavras e gestos o que se passa quando nos ligamos até quase tocar o coração, quando vivemos o SEU sorriso real e depois abdicamos de tudo, deixamos os sonho de lado, e ficamos assim - aparentemente lado a lado: mas de facto impactados dentro da armadura prateada de uma hora concentrada a deixar tudo e todos lá fora...
Até eu...
E assim fico... assim... sem saber que fazer; se entrar na casa de banho e te interromper... abraçar-te, beijar-te e dizer-te: mais uma vez - que és o mais imnportante e por isso dói ver como se relativiza: tão fácil ! - o tesouro da vida que algo depositou na nossa existência...
Talvez porque - cada momento no que me "esqueço" de te beijar e adorar pela manhã, cada momento no que não houve aconchego no deitar - é um momento mais perto das névoas ... desse campo minado que nos separa de forma subtil e no que tantos casais entram "por via das circunstâncias" até se perder no seu caminho a dois...
Não por que não se amem - simplesmente pela mescla de ingenuidade e obtusa testarudez para não notar que - o mais importante - deve ocupar o máximo de atenção e tempo de um dia para não se transformar no aleatório ou complementar e depois começar a escorrer para o banal com laivos de comportamento artificial que se começa a não tolerar até que se quer mesmo é perder...
Daqui a que um dos membros do casal sinta que já não é tomado em consideração, olhado com intensa devoção, ou que é o verdadeiro centro da existência do outro (por muitos outros pequenos planetóides que orbitem em seu redor - como família, paixões, afazeres, ocupações ) vai um passo...
e a relação começa a esmorecer e aparecem as as opções conscientes levando a que os amantes se separem;
"O tempo e dedicação que deste à tua rosa foi o que fez a tua Rosa especial" A. S. Exupéry
Estas "coisices" são verdades a decorar - pena que não se aprenda na escola da Madre "escolástica";
Lembro uma experiência de um senhor chamado "Emoto" descrita num livro - "mensagens na água".
Nele se descrevia uma experiência com sementes de arroz que haviam sido distribuídas pelos lares de alunos de escolas Japonesas.
A questão é que - em cada casa - se colocavam duas sementes - cada uma num copo com água.
A uma delas eram oferecidas palavras e emoções "positivas" enquanto que à outra eram dadas palavras e emoções "negativas".
A semente exposta à "negatividade" esmorecia rápidamente enquanto que a outra germinava - mesmo tendo ambas o mesmo "alimento".
Este facto curioso levou ao desenvolvimento de uma segunda fase da experiência - na qual uma terceira semente era acrescentada ao ambiente das casas só que - ao contrário das duas primeiras - a esta terceira semente era negada qualquer atenção.
Ficava apenas com a água na que estava mergulhada...
Aqui a questão ia mais fundo, pois a terceira semente definhava, e definhava ainda mais depressa do que aquela exposta à "negatividade"...
Como uma semente, a relação de casal necessita de exposição a "positividade" de forma contínua, proveitosa, e profunda.
Não apenas a gestos casuais ou a momentos "arranjados" à última da hora - mas sim a momentos desejados, com intensidade: de forma constante e que impliquem o ser humano que gera as situações de atenção PRIVILEGIADA e aquele que as recebe...
Como uma semente - a relação de amor humano - apesar de aparecer no terreno "propício" por obra da grande força que nos gera e nutre - implica o "sim" diário, claro e constante de quem se COMPROMETE - é esta a divisória entre o humano: com livre arbítrio e o animal: orientado pelo instintivo/ hormonal...
Manter a relação viva - e nutridora - implica momentos de atenção especial, de qualidade... implica tempo, devoção, vontade, entrega e criatividade para variar as formas como se demonstra e vive o amor no que se mergulha por fé...
Implica Constancia e perseverança - é um caminho que se faz dia a dia, passo a passo - e que leva à libertação dos medos, duvidas e da própria sensação de morte que tantas vezes o ego usa para nos prender, limitar e torturar...
O amor humano é o caminho da VIDA - implica o ser humano integral e os implica POR INTEIRO...
Por isso são tão raros os casos... lembro um...
Um casal de idosos - lindos eles;
Simpáticos e com rostos "de meninos" se se pudesse colocar a questão desta maneira.
Lembro que o homem do casal esmoreceu numa Quinta-feira... "passou" durante o fim de semana...
Foi algo simples... leve... fácil... como uma brisa que se fosse afastando... até se diluir...
Já tenho visto gente "passar" e algumas passagens são doentias... meses e meses a apodrecer o corpo e a esmorecer o nicho familiar onde este se encontra...
Este passou - suponho - nas asas do amor;
Ela "passou" três dias depois.
Encontramo-la "adormecida na cama que fora do marido.
Ainda vestida...
A união e entrosamento destes dois seres elevou-os sobre o medo...
O Amor liberta e expande o orizonte da vida - ainda que pareça uma rotina fechada sem grandes coisas garridas...
Ao contrário de um shopping de emoções intensas, apresenta uma placidez serena e constante que - com a entrega - vai entranhando os seres amantes...
As faces mudam e se fazem iguais...
Falta neste tempo - acreditar...
Falta neste tempo - parar...
Ovir a voz do interior - o apelo ancestral do abraço para com o ser amado;
A necessidade intrínseca de o encontrar - como se do próprio ar que se respira se tratasse... e se afogasse se o não pode vivenciar...
E vivenciar é por inteiro - não é virtual; não é uma voz, nem uma imagem, nem um toquen... é por INTEIRO: por isso se ama e se entrega um ser - por inteiro...
E é aprender por ser, por sentir -por um saber que vem de dentro;
É esquecer as teorias - vazias - de seres que aprenderam em sebentas a gerir as vidas alheias... tantas vezes com as suas tão plenas como garrafas vazias perdidas na areia...
É crer - com corpo e alme: que é esse o nosso caminho ser lindo; e agir com a coragem do leão que luta e desgarra para defender a prole e o seu direito ao espaço para existir...
É assim que que nos vamos encontrando... dando tudo por tudo pelo nosso mundo...
O mundo não de um ser individual que se encontra com outro ser individual - esta é a mentira que vem do individualismo de consumo (consomem mais dois seres independentes partilhando relação do que dois seres em casal);
Mas um mundo de dois seres VOCACIONADOS para o amor que UNE; para o amor que FUNDE e que INTEGRA o ser humano na sua HUMANA e verdadeira CONDIÇÃO - para além do medo da morte, da dor e do sofrimento da solidão...
Um amor que depois se MULTIPLICA e EXPANDE da forma mais natural... como a água de um rio em direcção ao seu Mar....
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