O Encontro além da
aparência…
Que procuro noutro ser humano…
que move as mais altas
aspirações que posso entrever?
É o seu aspecto, o seu espectro: aquilo que me pretendem
vender?...
Os seus dons, a sua vida…
que procura esta minha perspectiva
que – só – não consiga entrever?
Quando perscruto o rosto…
a mão amiga…
qual o encontro no
ser que se olha?
Que se passa, que esconde a graça
– das pontes que nos fazem
ser um só…
qual a máscara
– seja ela d’ouro ou prata –
que seja maior
do que a vida,
a virtude e a devoção feita assim amor?
Que se sente quando a alma sedente encontra o seu espelho e
nela planta louvor?
Que verdade esquecida, que memória perdia se procura em fim despertar?...
Qual o passo nesta vida,
que caminho
- vereda antiga –
se
procura recordar…
Entre as névoas do destino
e o humano desatino
– qual a
esperança a renovar?...
Qual o caminho eterno que tu não vês…
encontra-se já perdido
ou espera que de ti o dês?...
A confusão geral parece abafar o eco ancestral
que nos
deposita neste tempo…
neste lugar…
Qual a força que nos fixa
se somos livres afinal?
Que medo compele no
momento,
o Ser que é eterno e que em si gera o tempo
a estar preso num segundo
artificial?
Qual o sentido de aqui estar
– qual a porta para te evocar…
Qual o lugar a onde devo voltar
– e se não existisse -
porquê
o posso recordar?…
Porquê em teus olhos
– meu espelho –
o posso encontrar…
e vivenciar?...
Estaremos assim tão baços
que se já não veja o sentido
estranho
neste caminho bizarro
- caminho
antigo e sagrado –
guardado para nos libertar?…
Baixamos tão cedo os braços,
desistimos dos nossos anseios
mais altos
– por nos vender nas migalhas
continuamente deixadas para nos
ludibriar?...
Uma mesma vida…
um mesmo olhar…
dois olhos que contemplam o
mesmo amar…
reflexos e ecos de Ser Universal…
melodia contida entre as paredes
do Corpo Original…
melodias festivas
luzes do dia
entre as janelas
coloridas
a fazer o templo vivo animar…
cores garridas,
reflectidas no Eterno Vitral…
onde se encontra a voz que me lê afinal?...
Onde o olhar que olha o que vejo ao te contemplar?...
Entendes a onde quero chegar?...
Há sentido nesta vida,
há lugar a onde regressar…
há começo
e partida…
caminho…
vereda antiga…
há passos e ecos de passos a andar…
há
paragens novas a desvendar,
escolhas entre caminhos e memórias a evocar…
há
sangues que se cruzam entre os sangues deste lugar…
memórias que geram histórias
que tu e eu vimos p’ra contar…
e há recantos ainda por explorar
– novos encantos
–
- eternos e estranhos –
para desvendar…
Há luzes ainda a acender
– sejam as estrelas caídas -
perdidas entre rochas antigas,
sejam os nichos nos que descansam as raças
esquecidas…
sejam as heranças desconhecidas
que ser algum nos pode roubar…
Entendes já – onde tu e eu devemos chegar?...
Porquê a força primordial,
porquê a raça ancestral,
porquê o
teu ser e o meu a vibrar?...
dois corações,
as
mesmas recordações…
um mesmo andar
eco vivente a palpitar…
Ou já esqueceste
que o que sentes
é o mesmo que se estende
em derredor?
Que o suspiro da brisa
em teu rosto ecoa
entre este espaço
angosto a memória voa
e no teu gesto desmedido,
no teu grito antigo
- se espalha por todo o mundo de uma só vez?
Que o que vês..
te toca…
o que imaginas
– brota –
em tua vida e de tudo o que és…
algo aninhou entre estas flores garridas e
– como erva daninha –
devorou a luz do nosso olhar…
E – todo o “algo” entra bem dentro do teu pensamento e faz
ninho em ti para germinar…
entendes de que te estou a falar?...
Que cada vez que me lês…
em cada vez que me vês…
eu em ti
estou,
em ti existe o meu ser a vibrar
– porque tu assim fizeste e foste tu a
me deixar entrar?...
Consegues o segredo guardar?
Consegues as tuas portas preservar?
A Vida que se espera
garrida
– manter a todo o custo e em todo o lugar?
o mar que lembras, o sal a que sabes…
o eco dessas vagas não mãos com que me afagas
são como as
asas das aves que pairam…
sobre o imenso sem tempo,
sobre o abraçar o eterno
para além do momento…
Gaivotas sobre este nosso ar…
nesse TEU lar – que sentes e
vês…
e por isso por mim te deixas tocar…
começas a entender de onde vem este teu outro olhar?
Estás disposta a reacender a luz do teu ser ancestral?...
a
deixar o jugo que pretendias usar
– para encadear teus filhos a este mesmo
lugar,
para dar mais nomes às listas dos perdidos
entre aqueles que se poderiam
salvar…
simplesmente por despertar…
e viver a recordar
– a sua verdadeira
essência, a sua verdadeira cadência –
o seu verdadeiro ser UNIVERSAL?...
Estás tu disposta a percorrer os caminhos de outros tempos,
os que transformam os momentos
e enveredar pelo que leva de volta ao nosso
ponto inicial?
Revelarás assim aquilo que és,
reflectido naquilo que crês
–
sem te deixares levar,
conspurcar,
prender,
restringir ou atar?...
Porque
– assim fazendo:
conspurcarás,
prenderás,
restringirás
e atarás sem remissão
aqueles que te foi dado a levar pela mão…
Entendes o que te quero dizer?
És tu quem desperta
e ao ouvido segreda
que viemos a este
mundo para o mundo iluminar?...
és tu quem acerta
a
ver mais longe do que alcança o olhar?...
A que em mim mergulhas
– sem medo, sem culpas -
sombras que são folhas deste Outono a passar ,
além do
vento que traz lamento neste Inverno do pensamento,
além da melodia da
Primavera sem tempo
trazes para nós a semente de sentimento
que alimenta e que não mais nos
deixa sós?
agarras tu este coração que brota,
esse sangue vivo que o tempo
evoca…
esse viver contido que espera a tua palavra viva,
Sol que irradia
– vindo da tua boca -
nesse nosso ETERNO VERÃO?
DIRÁS
- COM TODO O TEU SER O VIVERÁS?
Estou por ti como tu por mim
– até ao céu cair –
até à rocha
do templo ruir
– até que a luz em ti e em mim se faça sentir
tocando o ser
amado,
o livre e o escravo
– os faça também a eles despertar…
para o novo céu, a nova
terra, o novo mar…
novos guardiães da vida em nós a palpitar…
Algo então diz:
amigo
- estou contigo -
em todo o tempo e em todo o lugar…
Repetes tu isto que digo,
e sentes que tem sentido
– além do
romântico abrigo
que teceste para vida conceber
– sem perceber –
que é a Vida
que concebe a tua vida,
o teu sorriso,
a tua perspectiva
e o teu Eterno Ser a
irradiar?...
És tu que vens para
me despertar?...
E que vens para a luz quebrada de novo iluminar?
És tu?...
Entendes o que te estou a dizer?
O Penhor de vida,
sentido e perspectiva
que implica dar as
mãos e vencer?...
Vencer essa treva que vai crescendo
– por fora e por dentro
–
esta loucura que ameaça perder
– os dias as horas, o tempo das memórias,
dos
sorrisos livres dos seres sublimes
dormentes em corpo de homem ou mulher?...
És tu quem veio para confiar
– que as palavras que aqui
ecoam estranhas,
vêm de algum outro lugar
e que as melodias antigas
serão de
novo erguidas
entre os postes dos Maios garridos,
entre os sorrisos despidos
e
os olhares de luz que nos vêem…
realmente nos vêem
- mais do que o corpo,
a
posse ou todo o que é morto –
vêem a luz do olhar,
vêem o que há no peito a
vibrar
– vêem a luz na fronte de quem não se esconde -
e vem para atreva perder e
despojar
– destituir estes tronos de luto
que são os que
– em cada segundo –
comandam este outrora jardim das maçãs…
agora
É tempo de laranjas floridas
das fortes perspectivas
das
vitudes que se não podem comprar
É tempo de recordar e despertar
a força dormente da rocha
sedente e do bramido do mar…
E tempo de recordar
– o vento nas asas que rasga a
tempestade –
ondas de prata sobre a branca espuma ancestral
– vaga que varre
este lixo,
vida que transforma o mundo,
espada que se vence na chama
desmembrando-se por sempre o seu gélido irradiar…
É tempo de evocar
– o rochedo antigo –
que se ergue altivo –
entre as vagas do mar…
e as horas
– nas que cantávamos…
e dançávamos
as
melodias de harmonia
que continham o caos e a sombra
no abismo sem tempo e
lugar…
és tu quem
vem para lembrar?
És tu quem vem para me despertar?
Tens tu a coragem de ser mais do que a margem
– do um céu e
uma terra e um mar –
serás tu o centro de onde ecoe o tempo
no novo mundo a
fundar?....
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