Pés na terra... raízes de lava quente que se enterram em sólo fértil...
Abraço intenso... no que dois corações se reencontram... e o centro interno deste planeta mistério palpita a três... sendo um no meio de tantas sintonias paralelas.... de tantas folhas dispersas que não encontram sua árvore mágica - sua pertença imemorial...
E rasgo a cal que me cobria o olhar para te ver pela primeira vez... já não mais o robot de uma sociedade que inventa faces ideais e que as reproduz baixo a batuta imparável de um marketing infernal....
Cai o gesso, dissolve-se a cal... o sepulcro frio abre seu conteúdo para o exterior - revelando a sua verdade e o teu mundo interior...
Rio e sorrio para ti:
Para o teu ser recém nascido... depois de tantos marinheiros e portos de abrigo... começas a caminhar na luz... a tua vontade removeu as núvens... uma estrela brilhou para ti...
Foi primeiro um olhar - iluminado - que surgiu assim: sem mais - quando nos contemplávamos num momento no que - distraídas - as sombras que nos guardam deixaram entrever o nosso ser real...
A partir dai - lutei - juro que lutei; porque te entrevi - e queria ver mais...
Nos momentos de silêncio... no lusco fusco de quartos perdidos - travamos batalhas entre as sombras - onde clarões de luz e vitória se misturavam com abraços de morte absorvendo a esperança para recantos nos que a vida já não conta e nos que a memória se confunde entre tragédias e visões impossíveis de dias e momentos sem sentido maior do que a corrupta degeneração...
E veio o resgate - de um sorrir - puro, simples - singelo. Sem adorno da mente, sem modelagem do condicionamento... apareceu na intimidade de um abraço... nus... sem mais... sem querer estar atrás... das roupas e das máscaras... ou à frente - na voragem de mergulhar um no outro e nos diluir...
E esse sorri brilhou dourado... pálido e incipiente - sim - mas dourado...
Promessa do que está enterrado: baixo anos e anos de betão armado - construído por rotinas vazias, opções perdidas e pessoas que cruzaram as nossas vidas sem nos amar, ver ou considerar... assim de cego está o ser outrora humano;
As armaduras negras se derretiam... o furor do dragão as fundia... e a força do coração eterno e palpitante ia devolvendo pequenas instantâneas - imagens fugazes - do teu rosto antergo... do teu ser primievo - para lá da mente e das linhas do mundo...
Depois foi um beijo...
Tão simples, puro, singelo - que nem a mente teve tempo de o registar, catalogar, ordenar e enquadrar dentro dos vários catálogos paralelos que possui para controlar (e destruir) o mundo mágico e maravilhoso que nos é dado a viver em cada segundo de vida...
Foi sopro de sinceridade, luz de verdade... lábios que se tocaram e juntos tocaram minha pele - assim - sem mais.
Sem pedir... sem intenção de dar...apenas estando presentes... beijo de criança livre...
E soube que estávamos no caminho certo... tijolos amarelos a procura da cidade esmeralda... coragem que se descobre, amor que nos embala...
Depois foi uma gargalhada... risa clara - nascida do profundo da garganta e iluminando todo o teu rosto - costumeiramente submerso num rictus mistura de cansado e preocupado.
Ma, dessa vez - simplesmente - explodiu... riu..
Acabarámos de fazer amor e - apeteceu rir... de tão puro e igual que tinha fluído o magma do coração... que inundou a cérebro e as suas mil voltas até sair - sem ser em grande "Oh" - apenas em sorriso de crianças livres que se olham pela primeira vez depois de penetrar nos segredos profundos da alma acompanhante e - sorriem em liberdade - por ver o Elíseo em derredor e a luz de um novo sol reflectida no rosto do desconhecido com cara angelical que se encontra em frente...
Olhar e sorrir de reconhecimento...
Depois foi o olhar de Mulher - que me viu como homem.
Surgiu assim... numa conversa de café... naquele lugar de sonho entre granito e madeira... depois de passear pelas ruas que podem ser nossa casa derradeira e nos atrevemos a sonhar - com vida, projectos, sonhos... pais...
Forte como os pilares da terra, grave e presente: com um saber ancestral que me trespassava e no ser se depositava... desafio para me erguer e ser; como se a minha contraparte estivesse a despertar e - no seu abrir asas - me estivesse a convidar a voar... a imaginar... a ousar... a sonhar o real...
Passos... que passo a passo vão descolando os vidros de mentira que recobrem alma, corpo e mente... e que se revelam na face vazia outrora ocupada por expressões aprendidas entre um monte de gente...
Faces adocicadas, por emoções forjadas e situações inentadas fruto do guardião da mente... caramelo rebuçado deretido e semeado pelo furor do Dragão... pelo palpitar inflamado do eterno coração;
No amor caminhamos, em seu fogo nos purificamos, na sua chama queimamos todo o lixo que carregamos - para revelar a essência do que somos nos braços que nos fazem ser verdadeiramente presentes... e reais...
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