Música

terça-feira, 21 de agosto de 2012

A Força das Marés

Quando o furor do vulcão desperta - lava correndo pelo peito... escorrendo pela pela hirta, em cada momento inflamado pelo queimar de vida que se não pode negar...

Pés na terra... raízes de lava quente que se enterram em sólo fértil...

Abraço intenso... no que dois corações se reencontram... e o centro interno deste planeta mistério palpita a três... sendo um no meio de tantas sintonias paralelas.... de tantas folhas dispersas que não encontram sua árvore mágica - sua pertença imemorial...

E rasgo a cal que me cobria o olhar para te ver pela primeira vez... já não mais o robot de uma sociedade que inventa faces ideais e que as reproduz baixo a batuta imparável de um marketing infernal....

Cai o gesso, dissolve-se a cal... o sepulcro frio abre seu conteúdo para o exterior - revelando a sua  verdade e o teu mundo interior...

Rio e sorrio para ti:

Para o teu ser recém nascido... depois de tantos marinheiros e portos de abrigo... começas a caminhar na luz... a tua vontade removeu as núvens... uma estrela brilhou para ti...

Foi primeiro um olhar - iluminado - que surgiu assim: sem mais - quando nos contemplávamos num momento no que - distraídas - as sombras que nos guardam deixaram entrever o nosso ser real...

A partir dai - lutei - juro que lutei; porque te entrevi - e queria ver mais...

Nos momentos de silêncio... no lusco fusco de quartos perdidos - travamos batalhas entre as sombras - onde clarões de luz e vitória se misturavam com abraços de morte absorvendo a esperança para recantos nos que a vida já não conta e nos que a memória se confunde entre tragédias e visões impossíveis de dias e momentos sem sentido maior do que a corrupta degeneração...

E veio o resgate - de um sorrir - puro, simples - singelo. Sem adorno da mente, sem modelagem do condicionamento... apareceu na intimidade de um abraço... nus... sem mais... sem querer estar atrás... das roupas e das máscaras... ou à frente - na voragem de mergulhar um no outro e nos diluir...

E esse sorri brilhou dourado... pálido e incipiente - sim - mas dourado...

Promessa do que está enterrado: baixo anos e anos de betão armado - construído por rotinas vazias, opções perdidas e pessoas que cruzaram as nossas vidas sem nos amar, ver ou considerar... assim de cego está o ser outrora humano;

As armaduras negras se derretiam... o furor do dragão as fundia... e a força do coração eterno e palpitante ia devolvendo pequenas instantâneas - imagens fugazes - do teu rosto antergo... do teu ser primievo - para lá da mente e das linhas do mundo...

Depois foi um beijo...

Tão simples, puro, singelo - que nem a mente teve tempo de o registar, catalogar, ordenar e enquadrar dentro dos vários catálogos paralelos que possui para controlar (e destruir) o mundo mágico e maravilhoso que nos é dado a viver em cada segundo de vida...

Foi sopro de sinceridade, luz de verdade... lábios que se tocaram e juntos tocaram minha pele - assim - sem mais.

Sem pedir... sem intenção de dar...apenas estando presentes... beijo de criança livre...

E soube que estávamos no caminho certo... tijolos amarelos a procura da cidade esmeralda... coragem que se descobre, amor que nos embala...

Depois foi uma gargalhada... risa clara - nascida do profundo da garganta e iluminando todo o teu rosto - costumeiramente submerso num rictus mistura de cansado e preocupado.

Ma, dessa vez - simplesmente - explodiu... riu..

Acabarámos de fazer amor e - apeteceu rir... de tão puro e igual que tinha fluído o magma do coração... que inundou a cérebro e as suas mil voltas até sair - sem ser em grande "Oh" - apenas em sorriso de crianças livres que se olham pela primeira vez depois de penetrar nos segredos profundos da alma acompanhante e - sorriem em liberdade - por ver o Elíseo em derredor e a luz de um novo sol reflectida no rosto do desconhecido com cara angelical que se encontra em frente...

Olhar e sorrir de reconhecimento...

Depois foi o olhar de Mulher - que me viu como homem.
Surgiu assim... numa conversa de café... naquele lugar de sonho entre granito e madeira... depois de passear pelas ruas que podem ser nossa casa derradeira e nos atrevemos a sonhar - com vida, projectos, sonhos... pais...

Forte como os pilares da terra, grave e presente: com um saber ancestral que me trespassava e no ser se depositava... desafio para me erguer e ser; como se a minha contraparte estivesse a despertar e - no seu abrir asas - me estivesse a convidar a voar... a imaginar... a ousar... a sonhar o real...

Passos... que passo a passo vão descolando os vidros de mentira que recobrem alma, corpo e mente... e que se revelam na face vazia outrora ocupada por expressões aprendidas entre um monte de gente...

Faces adocicadas, por emoções forjadas e situações inentadas fruto do guardião da mente... caramelo rebuçado deretido e semeado pelo furor do Dragão... pelo palpitar inflamado do eterno coração;



No amor caminhamos, em seu fogo nos purificamos, na sua chama queimamos todo o lixo que carregamos - para revelar a essência do que somos nos braços que nos fazem ser verdadeiramente presentes... e reais...

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